Na Truxt, apostas ‘convictas’ na Bolsa e preocupação com o fiscal convivem – O Globo, 23 de novembro de 2020

Por Rennan Setti

A gestora carioca Truxt, cujo patrimônio cresceu de R$ 13 bilhões para R$ 17,5 bilhões no ano da pandemia, está otimista com a Bolsa, mas preocupada com o país. Dois dos seus fundos acumulam retorno superior a 20% no ano graças a apostas em ações de “alta convicção”, segundo o sócio-fundador José Tovar, mas “não está nada claro que o fiscal esteja resolvido”.

Os melhores desempenhos da Truxt se dão, este ano, nos fundos Long Bias (31,4% em 2020; fechado para captação) e Valor (21,4%; aberto). A carteira dos dois é composta, sobretudo, de ações brasileiras — apesar de o índice de referência Ibovespa ainda acumular queda de 10% no ano.

— A gente não olha para o Ibovespa, a gente olha para o que chamamos de ações de high conviction (alta convicção), com bom management e vantagens competitivas — afirma Tovar, que fundou a Truxt em 2017 depois de uma carreira na ARX, da qual também foi sócio-fundador.

Segundo o gestor, entre suas principais “convicções” estão companhias ligadas ao fenômeno do financial deepening, como XP, BTG Pactual, a própria B3 e a empresa de maquininhas Stone.
Outro pilar é o e-commerce, com apostas como Magazine Luiza, além de companhias brasileiras com ambições globais, como Alpargatas (dona das Havaianas) e Natura, que comprou Avon e The Body Shop.

— Sabemos que XP e Magazine Luiza têm múltiplos altos, mas ainda estão entregando. Nossa política é não ficar girando a carteira. Temos 12 analistas para avaliar as ações e fazer posições mais de longo prazo. E achamos que o portfólio tem empresas bem geridas, com caixa e com mais de 7% da Petz.

A gestora do Leblon também entrou em alguns IPOs que deram certo, como o da rede de pet shops Petz, da qual tem 7,4% do capital, e das lojas de material de construção Quero-Quero.

Segundo documentos da CVM, a gestora também tem 12,2% da Plano & Plano, mas a construtora perdeu valor desde o recente IPO. No setor, a Truxt aumentou há algumas semanas sua posição na tradicional Cyrela, da qual tem 5,1% das ações.

O otimismo com a Bolsa contrasta com a visão de Tovar para a trajetória fiscal.

— O fiscal preocupa muito. A auxílio emergencial foi necessário, mas também foi maior do que o Brasil poderia pagar. Ele deveria existir somente até o fim do ano. Agora, existem as tentações políticas do Congresso e as ambições do presidente, que me fazem se perguntar se ele não teria vontade de estourar o teto. Não está nada claro qual será a solução para esse problema — critica Tovar, que espera que o Banco Central eleve juros no ano que vem por causa da inflação dos alimentos e da alta do dólar, o que só coloca mais pressão sobre a trajetória fiscal.

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