Otimismo com ativos brasileiros ganha força – Valor, 05 de junho de 2023

Otimismo com ativos brasileiros ganha força | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

PIB e cenário de desinflação dão impulso a visão mais positiva para câmbio, juros e bolsa

Por Victor Rezende, Gabriel Roca e Matheus Prado — De São Paulo

O otimismo tomou conta do mercado doméstico nos últimos dias. A sensação de que o crescimento econômico será mais forte que o esperado e uma dinâmica favorável do lado da inflação, já que a agropecuária foi a grande força no primeiro trimestre, deram a senha que faltava para uma nova onda positiva guiar os ativos financeiros brasileiros e sustentar apostas mais construtivas no curto prazo no câmbio, nos mercados de juros e também no Ibovespa. Antes disso, o arcabouço fiscal tinha dado sua contribuição nas últimas semanas, ajudando a reduzir riscos.

Com esse cenário em mãos, foi possível observar o termo “Goldilocks” se espalhar em algumas análises no mercado na sexta-feira. “Goldilocks” (inspirado no clássico infantil “Cachinhos Dourados”) se refere a um ambiente no qual a economia mantém um crescimento sustentável, não há pressões inflacionárias e a taxa de desemprego é baixa. Como consequência, ao menos no curto prazo, a aposta entre participantes do mercado é de um bom desempenho dos ativos brasileiros. Não por acaso, nas sessões de quinta e sexta-feira, o câmbio se apreciou, com o dólar novamente abaixo de R$ 5; os juros de longo prazo caíram; e a bolsa subiu.

“O resultado final do PIB confirma essa teoria de ‘Goldilocks’: o consumo doméstico e os setores sensíveis à política monetária estão desacelerando, o que é positivo para a inflação. E esses setores vão reagir quando as taxas caírem”, diz o responsável pela área de mercados da tesouraria do Santander Brasil, Sandro Mazerino Sobral, em relatório a clientes.

Ele nota que a história dos ativos da América Latina tem sido “a melhor do ano” e que um dos motivos é, justamente, o nível dos juros na região. “No Brasil, a história é a mesma, mas temos outros ingredientes”, diz Sobral, ao apontar o fato de os ativos domésticos se saírem melhor recentemente. O sistema bancário bem capitalizado; o impacto das reformas estruturais implementadas desde 2016; e o poder do agronegócio e sua capacidade de disseminar o crescimento pelo consumo e pelos investimentos são os elementos listados pelo executivo ao defender um otimismo maior com o Brasil.

“Parte substancial da descompressão de prêmios de risco já terminou, o que significa que o mercado exigirá, gradativamente, dados sólidos para continuar a melhorar. Por outro lado, uma das minhas principais teorias sobre nossa visão positiva do Brasil se confirmou: o clima está mudando”, enfatiza Sobral.

Visão semelhante é defendida por Guilherme Foureaux, sócio e gestor macro da Truxt Investimentos, ao afirmar que tem uma visão positiva para os ativos brasileiros e avaliar que ainda há uma “boa janela” para que os de risco se recuperem, em especial no mercado de juros. “Não concordamos com a visão de que já temos muitos cortes de juros precificado”, diz. “Os fundamentos econômicos apontam para um corte de juros e o Banco Central vai dar início a um ciclo de forma responsável. Não será um afrouxamento monetário, mas um ajuste no nível de aperto.”

Foureaux defende que não é preciso trabalhar com juros reais em níveis tão elevados no momento. “Ainda existe uma preocupação fiscal, mas o arcabouço excluiu o risco de cauda. Um ciclo de ajuste do aperto monetário ainda não está totalmente precificado. Gostamos dos juros nominais e dos juros reais e temos posições menores no real e na bolsa”, diz.

“Estamos em um cenário que, lá fora, costuma ser chamado de Goldilocks. Tudo que está acontecendo está favorecendo o Brasil a ter menos juros, mais crescimento e uma inflação controlada. É a combinação perfeita para os ativos de risco terem uma boa performance, principalmente quando olhamos para os preços dos ativos, que estavam ‘amassados’ [desvalorizados]”, diz. Com o nível alto de juro real, a gestora espera que o ciclo de cortes na Selic comece em agosto ou setembro.